segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Biografia Melipônica

            Nasci na localidade de Barro Preto, interior, 9 km, do município de Espumoso/RS.
Meu pai era fazendeiro, possuía três propriedades, uma só para vacas de cria, outra para a engorda de gado (bois) e a outra para bezerros desmamados e afins.
Na nossa morada (casa de alvenaria), tínhamos cata-vento que nos proporcionava a luz para casa e também ouvir rádio. Meu pai não perdia uma notícia no jornal do “reporte Esso” como era chamado na época. Papai cuidava do campo, e do gado, especialmente a pastagem e nos dias chuvosos capinava todos os “inços” (capins). Ele era muito organizado, muito enérgico, não admitia que filho dele fumasse, bebesse ou andasse na “orgia”.
Tínhamos uma casa confortável, com água potável, minha mãe tirava leite das vacas e eu desde pequeno auxiliava minha mãe e meu pai.
Atrás da casa havia um pomar com quase todas as espécies de frutas, um parreiral muito bem cuidado, tudo fechado.
Papai plantou eucaliptos ao retor da mangueira para banhar o gado, e outros cômodos para os cavalos, encerra e demais dependências para manter o gado próximo de casa.
Debaixo das árvores frutíferas meu pai tinha de 10 a 12 caixas das abelhas europeias, aliás, muito mansas.
Ele colhia mel todos os anos, em grande quantidade. A nossa família consumia pão, nata e mel, além de salame e queijo. A minha mãe fazia chá com folha de laranja, cidreira e mel, fervia em brasa e quando estava bem quente, adicionava leite e depois tomávamos antes de dormir para curar gripe, dor de garganta, febre. A mamãe fazia isso toda a semana quando era inverno. Por sinal o inverno na época era muito rigoroso e eram meses de frio intenso.
Após o almoço meu pai costumava tirar uma sesta e não queria barulho de nenhum tipo. Então eu costumava levar uma cadeira e sentar próximo as colméias para ver as abelhas trabalhar, porque elas eram muito mansas, como se dizia na época. E assim eu passava todos os dias horas e horas na frente das caixas, e, lembro-me que nunca fui picado.
Quando papai tirava mel eu o auxiliava, e a gente procedia da seguinte forma: o meu pai usava camisa de mangas compridas e eu também, levávamos uma bacia enorme, uma espátula para remover a tampa, uma faca bem afiada e um pano velho acesso para fornecer um pouco de fumaça para espantar as abelhas. Agente sentava (eu e papai) em dois bancos de madeira. Assim foram anos.
Aos sábados a tarde e domingos eu costumava andar pelo mato para ver se achava algum ninho de abelhas. Costumava levar um facão bem afiado e cada árvore que eu vistoriava costumava dar um corte profundo sempre no lado esquerdo.
Localizei alguns ninhos de plebeias e uma tubuna em meados de 1956.
Pedi ao meu irmão mais velho para me ajudar a cortar a árvore, botar o enxame numa caixa de madeira que ele fez para mim, bem simples, madeira fina, bem rústica.  O corte foi feito com machado. Era trabalhoso, mas comíamos o mel que não era tão azedo como hoje. À noite fomos buscar a caixa no mato, porque eu tinha medo de ir sozinho à noite. Meu mano disse que teria que buscar à noite porque as formigas poderiam invadir a caixa e matar os mirins.
Alguns meses depois cortamos outra árvore e retiramos mais um enxame de plebeia. Eu passava o tempo todo cuidando delas, sentava ao redor num banco de madeira para admirá-las.
Um tempo após meu irmão resolveu cortar uma canela já velha com o enxame de tubuna, mas eram muito bravas, só comemos o mel e, deixamos o enxame no próprio tronco.
Passados alguns anos, mais precisamente no ano de 1960, achamos um cortiço de manduri. Tinha muito mel, deixamos o enxame no próprio tronco da árvore, porque não tínhamos madeira para fazer caixa e colocar o enxame para trazer para casa. Dias depois fomos lá com uma caixa, mas não havia uma só abelha sequer. Fiquei muito triste com a perda. Depois nunca mais achamos outro enxame em nossa propriedade daquela espécie.
Anos mais tarde um vizinho que jogávamos bola sempre nos sábados à tarde me disse que havia achado uma abelha no chão perto da casa dele. Ele (Arquilau Lisboa) disse-nos que a abelha se escondia e o nome dela era “camatim” expressão popular (hoje é a mel do chão ou guiruçu). O nosso amigo de infância, Arquilau Lisboa, foi vice prefeito de Caseiros em 1996, um município do interior do Rio Grande do Sul.
Quando eu completei 15 anos meu pai me matriculou num Colégio interno na cidade de Não Me Toque/RS. Havia o campo de futebol do Esporte Clube Colorado daquela cidade, e no do colégio jogávamos bola todas as quartas-feiras naquele campo. Como havia um mato ao redor do estádio eu costumava, depois do jogo, olhar nas árvores para ver se achava outro enxame de “mirins”. De tanto procurar achei um num cambota, bem alto, mas como era árvore grossa eles não permitiram que eu tirasse o enxame. Fiquei muito triste na época.
Nas férias eu vinha para casa e a primeira coisa que eu pedia para minha mãe era minhas caixas de mirins e o meu galo fino. Mamãe tinha bastantes galinhas caipiras e eu tinha as minhas inclusive eu tinha um galo fino, vermelho, muito manso que também era uma das minhas paixões. Minha mãe me disse que outro irmão meu costumava “chupar” o mel dos mirins. Eu chorava muito por causa disso.
Em 1963 fui estudar na cidade de Cruz Alta/RS. Meu pai arrumou uma “pensão” para eu morar e estudar. A dona da pensão tinha galinhas, vacas de leite. Meu quarto era o numero 05. Depois entrei para o exercito e estuava de noite, fazia o Curso Científico à noite. Em setembro de 1.963, me formei Cabo do exército. No ano de 1964 retornei a Cruz Alta/RS para fazer Ciências Contábeis.
Em 1965 meu pai foi morar em Chapecó-SC. Em setembro do mesmo ano, fui visitar meus pais em Chapecó e conhecer a cidade.
Próximo ao antigo DER havia um muro e eu passando, de repente percebi umas abelhinhas voando, voando, era um enxame de jatais, mas nunca havia visto aquele tipo de abelha, nem tampouco eu sabia o nome, só sabia que eram mirins.  Apaixonei-me.
Quando conclui a faculdade em Cruz Alta/RS vim de mudança, em dezembro de 1966, para Chapecó. A primeira coisa que fiz foi dirigir-me até o local para ver se as abelhas ainda estavam lá. Sorte minha estavam e era um enxame com um pito enorme.
Na mudança trouxe as minhas mirins em duas caixas apodrecendo e até com vergonha do tipo de caixas.
Em 1967, após meu casamento, fui residir com minhas cunhadas, próximo a Rádio Chapecó levando as mirins. Algum tempo depois localizei um enxame de jatai no muro do lote de um vizinho e eu, escondido, comecei a cavar até consegui capturar o enxame. Foi uma conquista maravilhosa.
Em 12 de março de 1969 tirei meu alvará de contador como autônomo. Comecei junto com meu pai a visitar o interior para buscar novos clientes e oferecer serviços de imposto de renda, ITR e contabilidade.
Visitei a comunidade de Vila Fernando Machado e Linha Bento. Conheci seu Alcides Tressoldi na ocasião. Disse-me que iria montar uma Tissot (eu não sabia o que era). Na realidade era uma Serraria. Fiquei feliz, animado e realizado, pois pensava na época que iria conseguir muito enxames de abelhas. Foi o que efetivamente ocorreu. Conheci um motorista de nome Lauro Hermes e um motossereiro, Francisco Tressoldi, este um grande amigo, uma pessoa simples, como eu, uma pessoa muito legal, tornando-se um dos maiores amigos que tive. Todos os enxames que eles achavam no mato, cortavam o tronco e me presenteavam com os mesmos. Na época eu colecionava canivetes e facas e, a cada enxame, lhes cedia um canivete ou uma faca de acordo com o tipo de abelhas que recebia. Tínhamos até uma parceria com as jatais e apis. Depois o seu Francisco Tresssoldi ficou doente, teve 3 tumores na cabeça e faleceu em janeiro 2007. Senti muito a perda do amigo. Era um local muito propício a criação das abelhas. Ele fazia as caixas de madeira e eu as divisões. Já estávamos com 22 colmeias, elas produziam um excelente mel. Ele também colhia mel de apis e nos vendida e eu o comercializava, porque era de excepcional qualidade. A localidade de Linha Bento Gonçalves, município de Cordilheira Alta/SC, é um local propicio a produção de mel e um dos melhores mel de apis que temos colhido. Após este acontecimento trouxe minhas abelhas para Chapecó. Hoje tenho duas colmeias de apís na terra do seu Ivanor Breansini onde colhemos anualmente mel de apis de finíssima qualidade.
Em 1976 conheci o Dirceu Constante Peruzzo e o Domingos Turmena, ambos meus amigos, em cujos locais tenho minhas jatais, tubunas, manduris e vorá para produção de mel até hoje.
Nessa época, também através de seu Antônio F. de Carvalho, conhecemos nosso amigo e mestre Jean Carlos Locatelli de Souza, que neste lapso de tempo tem nos fornecido enxames de mandaçaia (as primeiras em 1997), depois guaraipos e outras e a quem buscamos obter conhecimento, e sem ele nada seríamos e o pouco que aprendemos foi dele exclusivamente.
Minha esposa era professora lotada no Colégio Estadual Bom Pastor de Chapecó/SC, e eu fazia parte da diretoria da APP do Colégio. Na ocasião havia doado a Diretora irmã Gisela Kops, uma colmeia de jataí. Posteriormente fomos convidados para um retiro realizado no referido colégio, oportunidade em que conhecemos um Padre de Caxias do Sul/RS, e no momento não posso precisar o nome dele. Após o retiro a irmã Gisela nos apresentou como criador de abelhas jatais. Este ficou imensamente interessado e nos estimulou na criação destes insetos, orientou-nos para dar uma colher todas as manhãs em jejum para as crianças, como forma de prevenir doenças e, notadamente para a garganta, dado que eu havia relatado que meus filhos apresentavam problemas de amigdalas.
A Zuleika, nossa primeira filha, com 4 anos de idade teve que submeter-se a extração das amigdalas, o segundo filho Giuliano também com 4 anos apresentou problema idêntico. Já para o terceiro filho, Saulo, começamos a dar de manhã e à noite uma colher de sopa de mel de jatais TODOS os dias até completar 10 anos. Conseguimos, com o mel, que ele não precisasse fazer a cirurgia. Depois o Matheus (do segundo casamento) também tomou mel até os 10 anos e não teve problema. Tudo conforme orientação daquele Padre que, inclusive, recomendou-nos tomar babosa com mel, e utilizar a babosa e o mel para feridas e outras enfermidades.
Em 1984 conheci o Ivanor Sfredo de Caxambu do Sul/SC, grande pessoa amiga. Cedeu-nos a sua propriedade e a de seu pai em Dom José para colocar caixas de abelhas para produção de mel até hoje. Em Caxambu do Sul temos mandaçaias e guaraipo que já estão produzindo mel para nosso consumo.
Enfim para concluir temos colmeias em diversas residências de Chapeco, familiares e amigos posto que o espaço em nosso lote é pequeno. Hoje nos dedicamos com a criação de diversas espécies para produção de mel, própolis e pólen, este, por ora, só para consumo.
O nosso objetivo é ter um acervo com as espécies disponíveis e adaptáveis á nossa região, um cadastro com criadores, pessoas físicas de todo o oeste, nos mais longínquos horizontes.
Em nossa casa, não pode faltar mel, própolis e pólen que é a base de nossa alimentação e prevenção de gripes, resfriados.